16 junho, 2024

AS COISAS QUE NÃO SE VÊEM

“Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 João 5:4). 


Fé é a vitória que vence o mundo, “a convicção de fatos que se não veem” [Hb 11:1]. 

Se essa é uma verdade, então o segredo da vitória reside na capacidade e persistência deliberada em não olhar para as coisas visíveis, mas focar a visão nas coisas que “se não veem”. 


Vemos esse princípio na história e experiência do povo de Deus. Paralisia, derrota e desastre eram o consequente juízo da visão segundo os olhos naturais. Por outro lado, a vitória seria o resultado encontrado, mais cedo ou mais tarde, por aqueles que confiavam nos recursos Divinos e realidades ocultas por trás das coisas visíveis. 


Quando alguém focava seus olhos interiores no “CONTEMPLAR” durante suas caminhadas íntimas com Deus, uma libertação sempre ocorria, e àquela pessoa era concedida ascendência espiritual e moral, pois se recusava a ceder à tirania dos olhos exteriores. 


Portanto, quando um mar profundo estiver adiante de nós, atrás de nós vislumbrarmos um Faraó tremendamente endurecido com suas hostes, e de cada lado se erguerem cumes intransponíveis – um retrato de uma situação humanamente impossível – vamos nos lembrar que a atitude salvadora é: “Não para as coisas que se veem, MAS…para as que se não veem”. Esse é um grandioso “mas”! 


Logo à frente temos uma terra de promessa, de realização, a entrada no propósito, depois de uma longa e dolorosa preparação. 


Mas, como acontece muitas vezes, o desafio final da espiritualidade fica entre o êxodo (a saída) e o ‘eisodus’ (a entrada). Será necessário aos sentidos naturais encarar dificuldades gigantescas, enquanto Deus permanece esperando no escuro, invisível. 


Resta o desafio: vamos seguir ou retroceder? Isso vai depender de uma capacidade para apreender esse Supremo Recurso… devemos ouvir a exortação: “NÃO PARA AS COISAS QUE SE VEEM”. 


Deus é muito bom em ocultar a Si mesmo de nossos sentidos naturais, para ser buscado em espírito e verdade. Se a Igreja é um corpo celestial que tem a fé como lei de sua vida, e se a peregrinação da fé implica na transição daquilo que é terreno em direção ao celestial, do natural para o espiritual, então, certamente poderemos esperar que quanto mais perto a Igreja chegar do fim de sua jornada, mais aguda se tornará a demanda por visão, discernimento e percepção espirituais. 


O servo do profeta, que dependia da percepção espiritual de outro (pois não tinha nenhuma visão espiritual própria), via somente as forças humanas que lhes ameaçavam, e que o deixaram petrificado de medo e paralisado. O profeta, no entanto, que desfrutava de uma comunhão de primeira mão com Deus, via as montanhas ao redor “cheias de cavalos e carros de fogo” [2Rs 6:14-17 – conforme ilustrado na história de Eliseu e seu servo]. 


Satanás trabalha na linha dos sentidos do corpo e da alma, e muitos filhos sinceros de Deus são desviados por meio destes apelos. Deus busca alcançar Seus propósitos em e através do espírito do homem, que é mais profundo do que os sentimentos ou a visão, mais profundo do que as sensações, emoções ou a razão. Satanás, por outro lado, é especialista em demonstrações. 


Quanto mais Satanás buscar sucesso por meio de enganos no terreno dos sentidos, mais o Senhor tornará Sua verdadeira vida em algo espiritual, separado daquilo que é terreno como, por exemplo, evidências e gratificação, conduzindo nossa vida à pura essência da fé, que é olhar “não para as coisas que se veem”. 


Esse é o espírito da nossa peregrinação, quando nos tornamos “estrangeiros e peregrinos na terra”. Esse senso da estranheza e distanciamento do plano terrestre deve necessariamente aumentar, até atingirmos uma agonia e desejo intenso pela pátria e as coisas celestiais. 


Extraído do texto “O Visível e o Invisível”, de T. Austin-Sparks

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