Segundo o apóstolo Paulo na epístola aos Efésios, o evangelho é um mistério
(Efésios 6:19) que esconde em si mesmo, por sua vez, outro duplo mistério: o mistério de Deus
(Pai) e o mistério de Cristo. Esta é a grande “boa nova” para todos os homens, incrédulos ou crentes. Ambos mistérios foram preliminarmente revelados no episódio de Cesaréia de Filipos (Mateus 16:13-18), quando o Senhor pergunta aos seus discípulos quem dizem ser ele.
Nesse momento, o Pai revelou a verdadeira natureza e ministério de Jesus ao coração de Pedro, e em seguida Jesus revelou o mistério da Igreja aos doze que estavam com ele. O Pai disse a Pedro que Jesus era “o Cristo, o Filho de Deus vivo”, e o Senhor Jesus disse aos discípulos que a Igreja seria uma realidade edificada sobre uma Rocha (Cristo), e que seria uma edificação de tal natureza que o inferno nada poderia contra ela.
Este conhecimento é a revelação de um mistério, um mistério que estava escondido pelos séculos e eras, e que nesse momento foi dado a conhecer. Não foi dado a conhecer a
todos os que habitualmente seguiam Jesus, senão aos doze; tampouco foi declarado nos primeiros dias do seu ministério, mas no final, provavelmente uns seis meses antes da cruz.
Esta revelação dupla é a pedra angular da nossa preciosa fé. É um mistério duplo que o Pai e o Filho tem revelado através da história da Igreja, sobretudo neste tempo.
O evangelho de Deus é, pois, um mistério que esconde outros dois.
Este evangelho não é só assunto de proclamação, mas de revelação. Não basta que alguns homens o preguem, e que outros homens o ouçam, mas que o Pai e o Filho o revelem. Não se alcança mediante o estudo bíblico (mesmo que o estudo bíblico nos ajude a entendê-lo logo que tenha sido revelado), nem mediante estudos teológicos. É um presente de Deus concedido às crianças (Mateus 11:25-27), aos que buscam a Deus com simplicidade de coração, porque assim agradou ao Pai.
O Mistério do Pai: Cristo
Esta revelação dada a Pedro em Cesaréia de Filipos é quase tudo o que o Pai disse aos discípulos acerca de Jesus, e o que o Senhor disse aos doze nessa ocasião é quase tudo o que disse sobre a Igreja. Os discípulos não estavam preparados para receber mais luz, pois o Espírito Santo não tinha vindo. Quando ele viesse, então, revelaria todas as coisas.
Graças a Deus, o Espírito Santo já veio, e trouxe a revelação completa.
E Deus chamou a um apóstolo - o menor, quase um inexpressivo, como ele mesmo o disse – para que lhe desse a conhecer. O apóstolo Paulo, na epistola aos Efésios, dá uma visão mais ampla sobre o duplo mistério que envolve o mistério do evangelho.
O mistério do Pai é Cristo, e Paulo nos disse, pelo Espírito, que Cristo será constituído como Cabeça de todas as coisas, tanto as que estão no céu como as que estão na Terra (Efésios 1:10). Aquele mesmo que o Pai revelou a Pedro como o Cristo, o Filho de Deus, aqui é destacado como o centro de atração e de reunião de todas as coisas do Universo. Isto é, evidentemente, uma revelação maravilhosa. Paulo nos leva muito mais longe, a uma dimensão cósmica que, antes dele, não se conhecia. Para conseguir este grande objetivo que Cristo seja o Cabeça de tudo Deus colocou Cristo primeiramente como cabeça da Igreja (Efésios 1:22). Cristo como a Cabeça de todas as coisas é um fato ainda futuro para nós; mas Cristo como a Cabeça da Igreja é um fato presente para nós. A carta de Paulo aos crentes em Éfeso apresenta primeiro a meta final (Efésios 1:10), e a continuação da realidade presente que fará possível num prazo próximo a realização da meta final (Efésios 1:22).
Quando a Igreja se submete em tudo à sua Cabeça, então todos os demais se lhe submeterão. A obediência de uns poucos possibilitará que todos os demais venham à obediência (2Coríntios 10:6).
O Mistério de Cristo: A Igreja
A segunda revelação que Paulo apresenta é a do mistério de Cristo, a Igreja. O capítulo 3 de Efésios, versículos de 4 a 6, nos diz que este mistério foi dado a conhecer agora aos apóstolos e profetas, pelo Espírito. O Senhor Jesus havia dito em Cesaréia que a Igreja seria edificada sobre a Rocha, e aqui Paulo nos diz quem a constitui: A Igreja está formada tanto por judeus como por gentios; ambos foram feitos membros do mesmo corpo.
Paulo nos fala aqui da Igreja como corpo. A comparação do corpo usada para representar a Igreja é a mais perfeita e completa de todas as comparações que há nas Escrituras para referir-se à Igreja, tanto no Novo como no Antigo Testamento. Há outras e muito belas, mas esta é a maior.
Paulo recebeu luz acerca dessa preciosa comparação muito cedo quando foi detido pelo Senhor no caminho para Damasco. Ele ouviu o que o Senhor lhe disse, segundo pareceu-lhe, umas estranhas palavras: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Saulo não se considerava perseguidor direto do Senhor, pois, para ele, Jesus havia morrido fazia muitos anos. Mas aqui se lhe mostra uma realidade nova e maravilhosa: o Cristo, que lhe fala dos céus, é o mesmo que os homens e mulheres aos quais ele persegue. Ele perseguia homens e mulheres, mas aqui era Jesus o perseguido. De modo que a comparação da Cabeça e do corpo é logo mostrada a Paulo. O que ocorre com ele nos anos posteriores de seu ministério foi, de certo modo, um desenvolvimento daquela revelação primeira. E aqui, em Efésios, Paulo leva ao ápice esta preciosa revelação, pois nos mostra este Homem Celestial em toda sua beleza. Este Homem Celestial é “um único e novo homem” (Efésios 2:15), que está assentado nos lugares celestiais (Efésios 2:6), que cresce até a medida de um varão perfeito (Efésios 4:13), que luta as batalhas de Deus com uma armadura completa (Efésios 6:14-17).
Como podemos ver, a dupla revelação de Cesaréia de Filipos é desenvolvida por Paulo e, neste desenvolvimento, nos mostra uma única realidade; ambas revelações convergem em uma única: Cristo e a Igreja, o Novo Homem, o Homem Celestial.
Outras Comparações da Igreja :
Portanto, a Igreja em Efésios é mostrada também através de outras comparações: a da cidade, a da família e a do edifício (Efésios 2:19-22).
Por meio de cada uma delas a revelação da Igreja se completa ainda mais.
A comparação da cidade nos faz recordar daquela preciosa profecia de Isaías 29:1,2: A Igreja é uma cidade forte que tem muros e muralhas. Ela tem uma salvação dupla para os que vem ao seu abrigo: a salvação dos pecados (mediante o sangue de Cristo) e a salvação deles mesmos (mediante a cruz de Cristo). As portas dessa cidade forte se abriram para deixar entrar as pessoas justificadas pela fé em Jesus Cristo e que seguem Sua palavra e não negam Seu nome (Apocalipse 2:8,10).
A comparação da família nos fala de um Pai (Deus), de um Filho Primogênito ( Jesus Cristo) e de outros muitos filhos e irmãos. A Igreja é a família de Deus, é a maior família de toda a terra. Cada filho de Deus e membro desta família tem irmãos de muitas cores, raças e línguas, todos eles unidos pela mesma gloriosa Vida, pelos mesmos preciosos vínculos. Na eternidade, o Pai amou tanto a seu Filho Unigênito, que desejou ter muitos filhos como ele. Então, se propôs a reproduzir esses feitos, esse caráter, essa formosura, nos muitos filhos que viriam. (Romanos 8:29).
O atual trabalho do Pai e do Espírito Santo é conseguir que os muitos filhos de Deus sejam feitos à essa imagem. Para isso, o Pai nos disciplina com amor, e o Espírito Santo nos destrói e nos reorganiza.
Chegará um dia em que, pela graça de Deus, todos nós nos pareceremos tanto com Cristo, que o Pai encontrará contentamento em todos nós, tal como encontrou antes em nosso Senhor (Mateus 3:17).
Por último, a comparação do edifício nos leva à revelação inicial de Cesaréia. A Igreja é um edifício edificado sobre uma Rocha, de modo que ainda que se levante contra ela o inferno, como chuva, como rio ou como vento (Mateus 7:25), não a derrubará. A pedra é Cristo revelado ao coração e confessado com a boca, tal como ocorreu com Pedro aquela vez. Os que são edificados sobre esta Rocha são pedras vivas (1 Pedro 2:4-5), quebrantados ao serem colocados sobre ela (Mateus 21:44), isto é, quebrantados em suas fortalezas naturais, para que neles fique apenas o que está de acordo com a Pedra angular, escolhida e preciosa.
O Espírito Santo está soprando em todo o mundo
Assim, vemos como aquela primeira revelação dupla de Cesaréia de Filipos é ampliada pelo apóstolo Paulo.
Os apóstolos não estavam preparados, naquele momento, para receber este conhecimento espiritual, mas, depois, ficaram preparados e o receberam.
Hoje, o Espírito Santo está trazendo para a Igreja, em todo o mundo, nova luz sobre essas antigas verdades, para que ela conheça seu chamamento e natureza, e para que viva conforme sua fé. O Espírito Santo está soprando outra vez em todo o mundo; a sabedoria e a revelação
de Deus estão inundando o coração dos amados de Deus, para que alcancem estas gloriosas realidades. Deste modo, a Igreja será restaurada.
E a restauração da Igreja começa por receber revelação do mistério do Pai e do mistério de Cristo; por reconhecer unanimemente a Cristo como Cabeça e por conhecer a realidade da Igreja como Corpo. Assim que a Igreja for restaurada, assim que esse precioso Novo Homem, o Homem Celestial que é Cristo e a Igreja, alcançar sua maturidade, poderá tomar o controle de todas as coisas, para que Ele seja o tudo em todos (Colossenses 3:11).
Então chegará a consumação de todas as coisas e se terá cumprido plenamente o mistério do Evangelho, o mesmo do qual Paulo dizia ser “embaixador em cadeias” (Efésios 6:20).
Fonte: Revista Betel
"Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo," (Efésios 4.13)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
Do império das trevas para o reino de Jesus Cristo : Do Egito para Canaã Tipologia Bíblica (parte 2) "Como vimos anteriormente, ...
-
Vamos ler o Salmo 133. 1. Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! 2. É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário